Sexta, 31 de Outubro de 2025

Famílias enfrentam silêncio do IML após operação letal no Rio

IML sobrecarregado retarda liberação de 121 corpos, incluindo mortes trágicas.

30/10/2025 às 22:23
Por: Redação

Familiares das vítimas da Operação Contenção, que aguardavam nesta quinta-feira (30) a liberação dos corpos, reclamaram da lentidão na perícia e da falta de informações adequadas. Com 121 mortos, incluindo 4 policiais, o Instituto Médico Legal (IML) da capital está focado exclusivamente neste trabalho. As famílias são atendidas em um posto do Detran, ao lado do IML.

Samuel Peçanha, trabalhador de serviços gerais, procurava notícias de seu filho Michel Mendes Peçanha, de 14 anos. A família reside em Queimados, Baixada Fluminense, mas Michel estava no Complexo da Penha no dia da Operação, após participar de um baile funk.

“Faz dois dias que eu estou procurando alguma informação. Falaram que eles vão ligar, mas ninguém liga, ninguém fala nada. No dia da ocorrência, eu falei com ele às 8h40 da manhã, ele me disse que mais tarde iria pra casa. Depois disso o telefone dele se calou. O comentário do pessoal lá da comunidade é que eles empurraram todo mundo para a mata. É nosso filho. A gente quer pelo menos ter o direito de enterrar”, afirmou.

Lívia de Oliveira também aguardava notícias sobre a liberação do corpo de seu marido, Douglas de Oliveira.

“Todo mundo está vindo aqui desde terça-feira tentando achar uma resposta. Infelizmente é sempre isso, dizem que ele ainda não foi identificado, que tem que esperar porque são muitos corpos. Como a gente deita a cabeça no travesseiro e dorme? Não tem como, é agoniante”, disse.

Os pais de Yago Ravel lutavam para reconhecer o corpo de seu filho de 19 anos, encontrado decapitado, o que só foi possível após a intervenção de deputados que estiveram no local. Alex Rosário da Costa, pai de Yago, expressou sua insatisfação por ter assinado o atestado de óbito sem ver o corpo.

“O meu filho foi espancado, depois ele foi executado e arrancaram a cabeça dele. Em nenhum momento eu pude ver o corpo dele. Ele foi encontrado com o corpo no chão de braços abertos e a cabeça dele em cima de uma árvore. Isso é uma carnificina”, criticou.

De acordo com o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, os mortos da Operação Contenção devem ser identificados até o final de semana. Ao menos 100 corpos já foram reconhecidos, mas os nomes ainda não foram divulgados.

Enterro

Além da dificuldade em obter informações, as famílias das vítimas enfrentam desafios com os custos dos funerais. Elas precisam escolher entre pagar um sepultamento privado, custando pelo menos quatro mil reais, ou aceitar o enterro gratuito oferecido pela prefeitura, realizado sem velório e em caixão fechado. Para agilizar os trâmites das famílias que optam pelo serviço gratuito, a Defensoria Pública montou um posto de atendimento no IML.

Segundo o defensor público André Castro, caso as famílias não cumpram os critérios para o enterro gratuito, podem conseguir o serviço mediante pagamento de uma tarifa social.

“Não precisa de ação judicial, nem nada do tipo. A gente está fazendo a orientação para as famílias e o contato é direto com as funerárias que fazem o serviço. Mas nós fazemos uma crítica há bastante tempo pelo fato de ser apenas em caixão fechado e sem velório. Não são condições que nós consideramos dignas para essa despedida dos seus entes queridos. Mas muitas famílias realmente não têm condições de pagar, esse tem sido um pedido central na nossa atuação aqui nos últimos dias”, acrescentou.

Operação Contenção

A Operação Contenção, realizada pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, resultou na morte de cerca de 120 pessoas, incluindo quatro policiais, de acordo com o último relatório. Foram efetuadas 113 prisões, 33 delas de indivíduos de outros estados. Além disso, 118 armas e uma tonelada de drogas foram apreendidas. O objetivo da operação era frear o avanço do Comando Vermelho e cumprir 180 mandados de busca e apreensão, além de 100 de prisão, sendo 30 expedidos pela Justiça do Pará.

A operação mobilizou 2,5 mil policiais, caracterizando-se como a maior e mais letal no estado dos últimos 15 anos. Os confrontos e retaliações por parte dos criminosos causaram pânico, com tiroteios intensos resultando no fechamento de vias importantes, escolas, comércios e postos de saúde.

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