
O treino no Ginásio do Maracanãzinho está prestes a começar, enquanto o Fortaleza Basquete Cearense se prepara para enfrentar o Flamengo pelo NBB (Novo Basquete Brasil) no dia seguinte. Alguns jogadores já estão aquecendo na quadra ao som de pagode, estilo bastante familiar para os brasileiros, mas ainda novo para a técnica do time. Jelena Todorovic, da Sérvia, tem 32 anos e foi anunciada em julho pelo clube. Ela ainda está se acostumando com a música local.
"Posso afirmar com confiança que danço forró muito bem. Mas ainda estou aprendendo a sambar. Toco piano e canto, adoro a música brasileira. Não sei o que é melhor no Brasil, a música ou a comida", revela Todorovic em entrevista à Agência Brasil.
Este é o primeiro trabalho de Jelena como head coach, a posição principal no banco de reservas. Após acompanhar grandes treinadores no basquete europeu, ela se sentiu preparada para avançar em sua carreira, recebendo autonomia do Fortaleza Basquete Cearense para trazer jogadores e implementar seu próprio sistema com ideias novas.
"Para mim, o time vencedor é aquele que joga melhor coletivamente, não apenas o melhor no papel", explica.
A estreia no NBB tem sido promissora. Nos três primeiros jogos no Rio de Janeiro, o time venceu Vasco e Botafogo, antes de perder para o Flamengo. Ao fechar com o Fortaleza, ela conversou com o técnico da seleção brasileira masculina, o croata Aleksandar Petrovic. A cada dia, Todorovic se familiariza mais com os jogadores, tanto adversários quanto companheiros, e reconhece as barreiras, como a língua, além das vantagens da criatividade dos atletas brasileiros.
"Atletas brasileiros, seja do futebol, vôlei ou basquete, sempre tiveram muita criatividade e também são muito físicos. Eu busco trazer a influência europeia de atenção aos detalhes, disciplina e ensino sobre leitura de jogo. Meus jogadores são grandes pessoas e profissionais. Apesar da barreira linguística, com a ajuda deles conseguimos nos comunicar", ela completa.
A presença de Todorovic liderando a equipe cearense quebrou um grande tabu no basquete masculino profissional no Brasil. Ela se tornou a primeira mulher a comandar uma equipe no NBB, a liga masculina de basquete criada em 2009.
"Certamente, isso significa muito, mas eu me vejo primeiro como uma técnica. Qualquer pessoa deve ser contratada com base em suas habilidades e merecimento. Seja homem ou mulher, treinando um time masculino ou feminino, o desafio é o mesmo", afirma.
Jelena usa sua própria história para mostrar que tudo é possível.
"Pensam que mulheres não conseguem impor autoridade ou lidar com a pressão de liderar um time masculino, mas isso não é verdade. Há também homens que treinem times femininos e não conseguem. O importante é sua capacidade de liderança, conhecimento e conexão com as pessoas. A autoridade vem daí, não do gênero. Quando estou na quadra uso um blazer, que virou minha marca registrada, e dentro dele carrego um broche com uma foto minha quando era criança, aos quatro anos. Isso me lembra que desde aquela idade eu queria ser treinadora. E aquela menininha nunca aceitou um 'não'."
Com toda uma carreira pela frente, Jelena Todorovic tem ainda muito tempo para construir uma identidade marcante como técnica pioneira no basquete brasileiro.
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