O café é uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo e desperta paixões e debates acalorados sobre seus efeitos na saúde. Enquanto alguns consideram essencial para começar o dia ou como um estimulante ao longo do dia, outros questionam seus possíveis negativos. Diante dessa polêmica, surge uma pergunta: afinal, o café faz bem ou mal para a saúde?
Um estudo publicado no Journal of Clinical Medicine por pesquisadores do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP) revela que certos tipos de grãos de café e a combinação entre eles podem afetar a saúde de diferentes maneiras, além de ainda acionar uma proteína do bem no organismo.
Realizado na Unidade de Pesquisa Café-Coração do InCor, a pesquisa é a primeira a avaliar e comparar dois tipos de grãos mais consumidos no Brasil, o arábica e o robusta, e seus efeitos quando misturados. As análises identificaram que, independentemente do grão, o consumo aumentou a concentração no sangue da sirtuína-1, uma proteína natural conhecida como “gene da longevidade”, que pode ajudar a reduzir o envelhecimento celular e o risco de doenças crônicas.
O estudo do Incor acompanhou 53 adultos saudáveis, de ambos os sexos, que ingeriram uma quantidade diária de 450 mL a 600 mL, cerca de 3 a 4 xícaras de café arábica puro e do café misturado (80% arábica e 20% robusta), durante oito semanas. Foram comparadas amostras do sangue do grupo que consumiu café puro e do que tomou misturado, levando em conta os índices de colesterol total, LDL-c e HDL-c, lipídios e homocisteína, um aminoácido relacionado a doenças cardiovasculares como AVC, infarto, doença coronariana e trombose.
A concentração de café utilizado para o estudo foi 15g por 150 ml de água para o processo de filtração, método escolhido por manter as propriedades do grão durante o preparo e reduzir os níveis de diterpeno (substância que aumenta o nível de gordura no sangue). Durante o estudo, os participantes foram orientados a não consumir alimentos como cacau, guaraná, chocolate e chá, devido à existência de cafeína nesses produtos.
Sobre o café, é bom ressaltar que não contém apenas ou principalmente cafeína. Na verdade, ela representa 1% a 2,5% dos componentes, menos do que outras substâncias que podem ser mais importantes o organismo humano como os 19 tipos de minerais (potássio, magnésio, cálcio, sódio, ferro, manganês, zinco etc.), 16 aminoácidos, lipídeos, como os triglicerídeos, ácidos graxos livres e açúcares, além da niacina, vitamina do complexo B.
O café traz ainda em sua composição ácidos clorogênicos, que formam vários outros compostos durante a sua torra, entre eles, os quinídeos, que afetam a área das emoções no cérebro e que, quando em descompasso, leva ao desejo excessivo pela autogratificação, insatisfação e depressão, gatilhos para o consumo de cigarro, álcool e drogas ilegais.
Apenas a cafeína é termo-estável, ou seja, não é destruída com a torrefação excessiva. As demais substâncias, como aminoácidos, açúcares, lipídeos, niacina e os ácidos clorogênicos são preservadas, formadas ou destruídas durante o processo de torra. O café com torra ideal é aquele que tem a cor marrom (claro ou escuro) como o chocolate. Já o preto, torrado em excesso, possui apenas a cafeína e grande quantidade de cinzas.
Benefícios do café
Estudos científicos sugerem que o consumo moderado de café pode trazer alguns benefícios à saúde. Entre eles, destacam-se:
· Estimulação cognitiva: A cafeína presente no café pode melhorar o estado de alerta, concentração e desempenho cognitivo.
· Redução do risco de algumas doenças: Pesquisas indicam que o consumo moderado de café pode estar associado a um menor risco de desenvolvimento de doenças como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, Parkinson e Alzheimer.
· Ação antioxidante: O café contém substâncias antioxidantes, como os polifenóis, que ajudam a combater os radicais livres e protegem as células do organismo.
· Melhoria do desempenho físico: A cafeína presente no café pode aumentar a resistência e melhorar o desempenho durante as atividades físicas.
Efeitos negativos do café
Por outro lado, existem também aspectos negativos relacionados ao consumo de café. Alguns pontos a serem considerados incluem:
· Efeitos no sono: A cafeína pode afetar o sono, principalmente se consumida em grandes quantidades ou próximo ao horário de sono, levando a problemas de insônia ou qualidade do sono comprometido.
· Estômago e digestão: O café pode irritar o estômago em algumas pessoas, causando azia, refluxo ácido ou desconforto gastrointestinal.
· Dependência e sintomas de abstinência: A cafeína é uma substância viciante, e o consumo excessivo de café pode levar à dependência. Aqueles que sofrem ou interrompem o consumo podem experimentar sintomas de abstinência, como dor de cabeça, irritabilidade e fadiga.
· Sensibilidade individual: Cada pessoa pode reagir de maneira diferente à cafeína, dependendo de fatores genéticos e de saúde. Algumas pessoas podem ser mais sensíveis aos efeitos negativos do café do que outras.
A questão sobre se o café faz bem ou mal para a saúde não possui uma resposta definitiva. É importante considerar que cada indivíduo tem suas particularidades e pode reagir de maneira diferente ao consumo de café.
Para a maioria das pessoas, o café consumido com moderação pode trazer benefícios à saúde, como estímulo cognitivo e ação antioxidante. No entanto, é importante evitar o consumo excessivo e estar atento aos possíveis efeitos negativos.
Como em qualquer aspecto relacionado à alimentação, é recomendável buscar um equilíbrio e, se necessário, consultar um profissional de saúde para observá-lo.
Mín. 15° Máx. 28°