Quinta, 30 de Outubro de 2025

Ricos emitem 400 vezes mais CO₂: 0,1% supera metade mais pobre.

Relatório revela desigualdade abissal nas emissões diárias de gases de efeito estufa.

29/10/2025 às 19:32
Por: Redação

A porção mais abastada da população mundial, correspondente a 0,1% dos mais ricos, libera em apenas um dia uma quantidade de gases de efeito estufa superior à emitida pela metade mais pobre da humanidade. Um único indivíduo desse grupo de alta renda é responsável, em média, por 800 quilos de gás carbônico equivalente (CO₂e) diariamente. Este valor representa 400 vezes mais do que a média de dois quilos de CO₂e emitidos por dia por uma pessoa do extrato de menor poder aquisitivo.

Esses dados foram divulgados no relatório intitulado Saque Climático: como poucos poderosos estão levando o planeta ao colapso, lançado na última quarta-feira (29) pela Oxfam, uma organização global da sociedade civil.

O documento da Oxfam investiga a capacidade restante do planeta para absorver emissões de gases do efeito estufa, visando manter o aquecimento global em 1,5 graus Celsius (°C) acima dos níveis pré-industriais, conforme estipulado pelo Acordo de Paris.

Para fundamentar suas análises, os pesquisadores utilizaram como base os cálculos do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC). Em 1990, o IPCC estimou um limite de 1.149 Gigatoneladas (Gt) de CO₂e como margem para assegurar uma probabilidade de 50% de sucesso na contenção do aquecimento global.

No entanto, o relatório aponta um crescimento significativo: desde 1990, a parcela dos 0,1% mais ricos nas emissões globais de CO₂ aumentou em 32%. No mesmo período, a contribuição da metade mais pobre da população para essas emissões registrou uma redução de 3%.

“Nos últimos 24 anos, as emissões continuaram a aumentar, e 89% desse orçamento de carbono restante já foi consumido”, informa o relatório.

Viviana Santiago, diretora-executiva da Oxfam Brasil, enfatiza que as descobertas do estudo reforçam a premissa de que os principais causadores das alterações climáticas devem ser os protagonistas na resolução do problema.

“Quando a gente fala que o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas é o que deve iluminar a atuação dos países na crise climática, isso também tem a ver com o nosso modo de vida enquanto conjunto da sociedade”, reforça Santiago.

A extensão da responsabilidade das pessoas mais ricas sobre o clima global é ilustrada por outro dado relevante: se todos os habitantes do planeta adotassem o mesmo padrão de emissão de gases de efeito estufa que os mais ricos, o limite de emissões para evitar um colapso climático seria esgotado em menos de três semanas.

“Essas pessoas têm um próprio estilo de vida, e também a maneira como elas geram suas riquezas e consomem está completamente relacionada com a emissão de carbono. E é uma emissão completamente desproporcional, em relação ao resto do planeta”, explica Viviana.

Com base nesses insights, os pesquisadores determinaram a redução necessária nas emissões da elite de 0,1% mais rica para que o aquecimento global possa ser mantido abaixo de 1,5°C. O relatório conclui que esses indivíduos precisam diminuir suas emissões pessoais em 99% até o ano de 2030.

Impacto dos Investimentos Financeiros

Detentora de um poder de consumo globalmente superior, essa pequena fração da população mundial também contribui para a emissão de gases de efeito estufa por meio de suas escolhas de investimento financeiro. Cerca de 60% de suas aplicações são direcionadas a atividades econômicas altamente emissoras, como os setores de petróleo, gás e mineração.

Segundo o estudo, um bilionário médio gera 1,9 milhão de toneladas de CO₂e por ano, unicamente por intermédio de seus investimentos.

Influência em Decisões Globais

Além de perpetuar padrões de consumo que intensificam os impactos climáticos no planeta, os investimentos dos mais ricos também financiam uma influência considerável em fóruns de decisão cruciais, a exemplo da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP).

O relatório da Oxfam utiliza a COP29, realizada em 2024 na cidade de Baku, no Azerbaijão, como exemplo. Durante essa conferência, 1.773 credenciais foram concedidas a indivíduos com ligações aos setores de carvão, petróleo e gás. Essa delegação, por si só, superou a representatividade média de todos os representantes dos 10 países mais vulneráveis às mudanças climáticas.

“A gente percebe como esse poder e essa riqueza, de potenciais poluidores e que constroem a crise climática, também estão nesses espaços onde o mundo tenta construir acordos para pausar o aquecimento global”, reitera a diretora-executiva da Instituição.

Diante dos fatos apresentados, o relatório também oferece um conjunto de recomendações para mitigar os impactos climáticos derivados das grandes fortunas. Entre as propostas estão a criação de impostos específicos e a restrição da atuação de super-ricos em ambientes de incidência política sobre decisões globais, além de uma melhor distribuição do orçamento climático e o fortalecimento da participação da sociedade civil e de grupos tradicionais.

“A crise climática é uma crise de desigualdade. Os indivíduos mais ricos do planeta financiam e lucram com a destruição do clima, enquanto a maioria da população mundial paga o preço das consequências fatais do seu poder sem controle”, conclui Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional.

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